Um pouco de esperança e muita frustração. É desta forma que a 26ª Conferência das Partes das Nações Unidas sobre o Clima (COP-26) foi concluída no sábado, 12 de novembro, em Glasgow, na Escócia, quando líderes de quase 200 países estiveram reunidos para oferecer soluções a emergência climática vivenciada pelo mundo atualmente – e que compromete as futuras gerações.
Uma das poucas boas notícias foi o acordo global que busca, pelo menos, manter viva a esperança de limitar o aquecimento global a 1,5 grau Celsius e, portanto, uma chance realista de salvar o mundo das catastróficas mudanças climáticas. O documento foi anunciado com 25 horas de atraso.
Alok Sharma, presidente da COP-26, bateu o martelo para sinalizar que não houve objeções decisivas das quase 200 delegações nacionais presentes em Glasgow. As delegações incluem desde superpotências alimentadas a carvão e gás a produtores de petróleo e ilhas do Pacífico, que estão sendo engolidas pela elevação do nível do mar.
Mudança de última hora
Após revisão, o acordo foi aprovado, depois de uma mudança de última hora no texto em relação ao carvão, o que provocou reclamações de países vulneráveis que queriam um comunicado mais definitivo sobre subsídios a combustíveis fósseis.
Depois de uma mudança de última hora na linguagem em torno do carvão, com a Índia sugerindo substituir a palavra “eliminar” por “reduzir”, Sharma sinalizou que o texto foi aprovado.
O acordo é o resultado de duas semanas de negociações duras em Glasgow durante a COP-26, que foram estendidas por um dia para equilibrar as demandas de nações vulneráveis ao clima, grandes potências industriais e países em que o consumo ou exportação de combustíveis fósseis é vital para o desenvolvimento econômico.
“Por favor, não se pergunte o que mais você pode querer, mas se pergunte o que é o suficiente”, disse Sharma aos delegados nas horas finais.
“E ainda mais importante – por favor, perguntem-se se, no fim das contas, esses textos funcionam para todas as pessoas e para nosso planeta”.
Objetivo modesto
O objetivo geral da Conferência, sediada pelo Reino Unido, era modesto demais, na opinião de ativistas do clima e países vulneráveis – manter a meta do Acordo de Paris de 2015 de limitar o aquecimento global a 1,5 grau Celsius acima dos níveis pré-industriais.
Um rascunho de acordo, que circulou no começo deste sábado, na prática reconheceu que os compromissos feitos até agora, para cortar as emissões de gases de efeito estufa que aquecem o planeta, não estão nem perto do suficiente. Também pediu que as nações façam promessas mais duras em relação ao clima no ano que vem, em vez de a cada cinco anos, como atualmente são obrigadas a fazer.
Cientistas dizem que um aquecimento acima de 1,5 grau Celsius geraria um crescimento extremo do nível do mar e catástrofes como secas, tempestades e incêndios muito piores do que as que o mundo está sofrendo neste momento.
Mas, até agora, as promessas dos países para cortar emissões de gases de efeito estufa – principalmente dióxido de carbono da queima de carvão, óleo e gás – limitariam o crescimento da temperatura global média em 2,4 graus Celsius.
No entanto, o rascunho deste sábado, publicado pela ONU, cobrou esforços para reduzir o uso de carvão e os enormes subsídios que governos ao redor do mundo dão ao petróleo, carvão e gás que alimentam fábricas e aquecem casas – o que nunca foi acordado em nenhuma outra conferência do clima.
O clássico entrave do financiamento
A Índia, cujas demandas de energia são muito dependentes do carvão, fez objeções de última hora a essa parte do acordo.
Países em desenvolvimento argumentam que as nações ricas, cujo histórico de emissões é amplamente responsável por aquecer o planeta, precisam pagar mais para ajudá-los a se adaptar às consequências e também para reduzir suas pegadas de carbono.
Para a especialista sênior em políticas públicas do Observatório do Clima, Suely Araújo, o fato de a COP-26 ter finalmente regulamentado o artigo 6 do Acordo de Paris, que trata do mercado de carbono, é positivo, uma vez que a questão se arrastava desde 2015. No entanto, a falta de definição e propostas concretas para o financiar a mitigação e adaptação climática é um problema que marcará a edição da Escócia. “Isso é muito ruim para os países pobres, que são os mais vulneráveis”, disse ela, que é ex-presidente do Ibama, ao portal Terra.